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Na Lupa: As oportunidades, as remissões e o tempo passaram para Arruda. Só ele não viu
Os anos passam e a conjuntura política, também. Quem entende isso aproveita-se do cenário atual ou se recolhe. No caso do ex-governador José Roberto Arruda (sem partido), que renunciou ao governo no longínquo 2009 devido ao escândalo da operação Caixa de Pandora, o tempo passou. Dezesseis anos longe de cargos mandatários são uma eternidade na política e, em 2026, completam-se 20 anos longe de disputas eleitorais. Ou seja, os eleitores de 16 a 20 anos sequer conhecem a trajetória do ex-governador. Em 2022, tal faixa etária representou cerca de 131.899 votos do eleitorado na capital, muito acima da diferença de 15.668 votos entre o então governador Joaquim Roriz e Geraldo Magela, na eleição ao Buriti em 2002.
Arruda tentou disputar a eleição de 2014 e 2022, sem sucesso. Foi barrado pela Lei da Ficha Limpa nesse vai-e-vem. Agora, com a Lei Complementar 219/2025, o ex-governador quer voltar à cena política com o argumento de que a nova legislação unifica e antecipa a contagem dos prazos. Com isso, condenados poderiam encerrar a inelegibilidade antes do que ocorreria na regra antiga.
Os vetos do presidente Lula (PT) preservaram pontos que impedem a aplicação, de forma automática, de retroatividade ampla em benefício de condenados. Juristas e ex-ministros do TSE afirmam que a flexibilização não se aplica a casos como o de Arruda. Há ainda o argumento de que as condenações do ex-governador por improbidade não são um “bloco único”, mas ações distintas. Cada sentença gera prazo próprio, o que empurra a inelegibilidade para além de 2026.
Em outubro de 2024, a Justiça do DF suspendeu direitos políticos de Arruda por 12 anos, em ação ligada à Caixa de Pandora (decisão que, isoladamente, já pesa contra a elegibilidade imediata). Novas condenações mantêm o relógio correndo.
Nesse sábado (25), o ex-governador foi “convidado” a se retirar da Convenção Geral da Assembleia de Deus de Brasília (Adeb), em Taguatinga (DF). Na ocasião, Arruda teria insistido em receber uma oração, quando o evento era restrito a ministros credenciados. De forma truculenta e vingativa, o ex-governador teria dito: “Diz para o seu pastor que, quando eu for governador, eu vou lembrar disso e vou dar o troco à igreja”, contou o presbítero que o barrou.
O ato reflete o que foi dito no início do texto: o tempo passa, bem como o contexto político. Insistir em chances desperdiçadas, como a de líder do governo Fernando Henrique, quando renunciou para escapar da cassação por ter tido acesso à lista secreta de votos que cassou o então senador Luiz Estevão, ou então depois, com a absolvição dada pelo povo brasiliense ao se eleger governador e cair com a Caixa de Pandora, é brincar com a inteligência do eleitor, que anda cada vez mais informado devido ao advento das redes sociais.
Pelo visto, Arruda não entendeu isso.
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