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Jockey na mira: CPI vai investigar R$ 83,6 mi ligados a rede de Marconi

A Câmara Municipal de São Paulo aprovou, na quarta-feira, 29, a criação de uma CPI para apurar suspeitas de desvios e irregularidades fiscais no Jockey Club de São Paulo. Estão na mira R$ 83,6 milhões captados por incentivos municipais e pela Lei Rouanet. O pedido é do vereador Gilberto Nascimento (PL). O colegiado terá nove membros. A Casa mudou o regimento para permitir até quatro CPIs simultâneas em 2025 e 2026.

O ex-governador de Goiás e presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, tornou-se sócio do Jockey em 2019 e, em 2022, passou a integrar o conselho. Nesse intervalo, empresas e pessoas próximas a ele teriam sido beneficiadas por contratos ligados ao restauro da sede histórica. O desenho sugere conflito de interesses e uso de verba pública para finalidades privadas.

A Elysium, produtora cultural transformada em Organização Social de Cultura por decreto de Perillo quando ele governava Goiás, assumiu a representação do Jockey em 2020. A partir daí, multiplicaram-se contratos com fornecedores ligados à família da prima Débora Perillo. Parte dos pagamentos milionários foi destinada a construtoras sem sede física compatível ou sem comprovação de capacidade técnica.

Há casos emblemáticos. Uma empresa de construção civil recebeu R$ 11,2 milhões e não foi localizada nos endereços informados, um deles em apartamento de alto padrão no Itaim Bibi. Outra, listada como beneficiária de R$ 1 milhão, negou ter executado obra nesse valor. Uma terceira confirmou participação, mas não informou quanto cobrou. O método fere a transparência e exige auditoria linha por linha.

Documentos indicam ainda notas fiscais duplicadas para justificar os mesmos gastos perante a União e a Prefeitura, o que levou o município a rejeitar as contas. Entre as despesas contestadas aparecem compras de medicamentos, dedetizações em Goiânia e jantares em restaurantes caros. A Elysium tentou classificar os itens como “custos administrativos”, mas regras de fomento vetam bebidas alcoólicas e gastos alheios ao objeto do projeto.

A abertura da CPI corrige uma omissão do poder público. A gestão de débitos tributários do Jockey e a alienação de potencial construtivo entraram no escopo. Sem perícia sobre notas, contratos e medições, o caso seguiria no terreno da retórica. Com poderes de investigação, a Câmara terá de rastrear quem contratou, por que contratou e o que foi efetivamente entregue.

Perillo nega envolvimento e chama as acusações de “leviandade”. Afirma conhecer de vista a empresária citada e diz que coincidências de origem e sobrenome não criam vínculo. A versão tenta deslocar o foco, mas não enfrenta o essencial: sua posição de conselheiro e líder partidário coincide com a ascensão de fornecedores do seu círculo no coração de um projeto bancado por dinheiro público.

O enredo reúne patrimônio tombado, renúncia fiscal e influência política. A soma pede resposta objetiva: prestação de contas, comprovação de serviços e responsabilização de quem lucrou com atalhos. A CPI nasce com elementos robustos para ir além do discurso. Cabe ao colegiado seguir o fio do dinheiro e devolver transparência a um caso que, até aqui, expõe mais sombras do que obra.

Da Redação

Fred Lima

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