NA LUPA: ‘Janjismo’ extrapola e se contrapõe ao lulismo. Ou: Que saudade de dona Marisa!
A recente declaração da primeira-dama, Janja da Silva, direcionada ao empresário Elon Musk, representa um deslize diplomático que pode trazer consequências indesejadas para o Brasil. Durante um evento do G20 Social no Rio de Janeiro, Janja proferiu um insulto em inglês ao bilionário, que assumirá um cargo significativo no próximo governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump.
Musk foi nomeado para chefiar o Departamento de Eficiência Governamental dos EUA, uma posição estratégica que visa implementar reformas estruturais e reduzir a burocracia estatal. Sua influência no futuro governo americano será substancial, o que torna qualquer comentário público sobre sua pessoa uma questão sensível no âmbito das relações internacionais.
Com Marisa Letícia, falecida em 2017, foi diferente. Durante os dois mandatos de Lula, ela manteve distância das câmeras e evitou protagonismo político. Sua atuação se limitava a apoiar causas sociais, como projetos voltados à inclusão de jovens, sempre nos bastidores. O silêncio de Marisa não era sinônimo de ausência, mas de uma escolha que privilegiava o papel institucional de uma primeira-dama como suporte ao presidente, sem invadir o campo político.
Janja, por sua vez, adota postura oposta. A socióloga, com longa trajetória política e alinhamento às pautas do PT, não hesita em se posicionar sobre temas delicados. Declarações públicas feitas por ela, como críticas a aliados ou comentários sobre políticas de governo, frequentemente geram repercussão negativa. Em algumas ocasiões, essas manifestações foram interpretadas como interferências, o que criou embaraços desnecessários para o Planalto.
Esse estilo de Janja, mais direto e combativo, contrasta com a imagem de uma figura que deveria simbolizar unidade e serenidade. Quando as declarações da primeira-dama causam atritos internos ou desagradam segmentos, o peso recai sobre o presidente, que já enfrenta desafios na governabilidade e na articulação política.
Enquanto Marisa representava o silêncio e a discrição, Janja simboliza a mudança de paradigmas, em que primeiras-damas assumem um papel mais ativo no debate público. Esse modelo moderno, no entanto, exige equilíbrio, algo que a atual esposa de Lula nunca teve.
Pode-se discordar de Lula sobre vários temas, mas o presidente nunca ofendeu ninguém publicamente. Já o então presidente Jair Bolsonaro (PL) insultou a primeira-dama francesa, Brigitte Macron, ao comparar sua beleza com a de Michelle Bolsonaro, gerando crise diplomática entre os dois países. O estilo sem papas na língua de Janja está mais para Bolsonaro que para Lula.
Ou o presidente limita o poder político de sua esposa ou então pode se preparar para mais presepadas, com direito a crises diplomáticas.
Da Redação
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