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NA LUPA: Sem FHC e sem China, Lula 3 desmonta o mito dos mandatos anteriores

Desde a campanha de 2002, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dizia ter recebido uma “herança maldita” de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A frase, porém, não condizia com os fatos. Embora o segundo mandato de FHC tenha registrado baixo crescimento — em parte por crises externas sucessivas —, a estabilidade econômica se consolidou. Esse ponto foi reconhecido pela então presidente Dilma Rousseff (PT) em 2011, em carta pelos 80 anos do tucano. Quatro anos antes, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci afirmara, no livro Sobre Cigarras e Formigas, que Lula herdou um país com economia equilibrada.

Mesmo assim, a rivalidade PT-PSDB levou o marketing de Lula a insistir na narrativa da herança maldita, apesar de encontrar um país pronto para decolar. O ambiente mundial também foi outro. Entre 1995 e 2003, FHC governou sob crises frequentes; já Lula pilotou, por seis anos, um céu de brigadeiro. O boom das commodities, puxado pela China, impulsionou os emergentes: em 2004, a América Latina avançou 6%, e o PIB brasileiro cresceu 5,7%.

Apesar da crise imobiliária nos Estados Unidos em 2008, Lula ampliou o crédito, gerou uma bonança interna artificial, manteve alta popularidade e elegeu sua sucessora. Não há almoço grátis: o estouro desses gastos recaiu sobre Dilma, que não pôde alegar ter herdado uma “herança maldita” do padrinho político. Além disso, a crise de 2008 provocou efeitos mais profundos no médio e no longo prazo; assim, o governo Lula não sentiu todo o seu impacto negativo.

Hoje, com o desempenho pífio do terceiro mandato, fica claro que o sucesso dos dois primeiros governos resultou de fatores externos e do legado da estabilidade. O cenário pós-Covid é mais desafiador e sem o empurrão das commodities. O reflexo aparece na inflação mais alta, na elevação da carga tributária e no baixo avanço do PIB — condições ausentes nos primeiros mandatos graças a ventos internos e externos favoráveis.

Com um Congresso mais conservador, a pauta econômica atrasada da esquerda enfrenta resistências. A rejeição ao aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) exemplifica a visão estatista do governo, que prefere taxar os mais ricos para sustentar políticas assistencialistas destinadas aos mais pobres, seu principal reduto eleitoral.

O terceiro governo Lula não difere dos dois anteriores; apenas não desfruta mais da mesma bonança de outrora.

Da Redação

Fred Lima

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