Viva o circo!
Por Carlos Augusto Pinto
Mataram um cacique da tribo Waiãpi, no Amapá. Foi um crime, um assassinato. Porém, o Fantástico precisava fazer uma matéria e era preciso um cenário apropriado. E teve produção, ah, isso teve.
Um grupo de índios sem pintura de guerra e limpinhos, dançando e simulando uma cena de guerra, não é fácil de conseguir. Um senador da República fazendo selfie fora do plenário também não é nada fácil, mas lá estava em uma estrada amapaense empoeirada, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), no banco traseiro do seu carro, dando pitaco sobre o óbvio: “Índios vêm sendo perseguidos etc”.
Randolfe pegou uma boa carona midiática, afinal é um ativista de boa verve e respeitável, além de inteligente. Além disso, é um queridinho da Rede Globo e 5 segundos pesam junto aos eleitores.
Mas vendo e revendo as imagens produzidas pelo Fantástico, percebo que no momento da dança dos brancos (gringos), mocinhas bonitas com penachos prontas para “uma gira de umbanda” e felizes representantes de ONGs, tinha um infiltrado militante do PCdoB, de cavanhaque, vestido com uma camisa vermelha, onde se lia: UNE. Avacalhou tudo.
Um monte de gente jovem segurando uma espécie de toalha com dizeres pedindo vida e paz para os índios Waiãpi, que habitam uma área muito cobiçada por desmatadores e mineradores bandidos.
A matéria ainda explorou o lado investigativo com sutileza: autoridades afirmaram que pode ter sido uma guerra entre tribos, disputa de liderança, onde foram usadas armas pesadas. Pode. Não mais do que isso.
COLUNISTA
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